quarta-feira, 22 de abril de 2009

Memória de guarda-roupa

Quando criança minha mãe era a chefe do guarda-roupa. A diferença de idade entre eu e minha irmã mais velha é menos de um ano. Um prato cheio para minha mãe nos tratar como uma dupla de par de vasos. Imagine se fôssemos gêmeas! Ela de conjuntinho de pluche vermelho e eu de roxo. Eu e ela de vestido vermelho de veludo cotelê com um pato bordado na frente. A saia com top de crochê também fizeram parte das roupas de final de semana, o dela rosa o meu branco. Fora os vestidos balonês, trapézio e cabelo a lá Chitãozinho e Chororó. Mas nosso sonho nunca realizado era ter uma roupa de paquita com direito à bota e tudo.

Uma camisola muito especial...
Minha mãe costurou só para mim uma linda e longa camisola branca e bordou com várias florzinhas rosa cor de bebê. Com esta camisola e de pantufa nos pés estreei nos palcos. Feliz da vida cantei para minha mãe junto com minhas coleguinhas Ursinho Pimpão.

Dois anos depois...
Ganhei uma galocha rosa, me senti aceita por todas minhas amiguinhas que já tinham as suas.

Brincando de fazer roupas...Barbie ou Zuzi? Se não tem Barbie vai de Suzi mesmo. Fazer roupas para a Zuzi não era bom, ela tinha as coxas grossas e quando costurava uma calça sempre esquecia este detalhe. Resultado, a calça não entrava. Até que ganhei minha primeira Barbie no lugar de uma bicicleta já que eu não sabia andar na mesma. Ai tudo ficou mais fácil, qualquer retalho estava eu inventando moda, costurando.

Xô camiseta e bermudão...
A independência no vestir veio quando eu disse para minha mãe que não aceitava mais usar camisetas. Eu por ser magra demais comecei a me sentir ainda mais magra. Essa decisão foi tomada porque observava minhas amigas e em especial minha irmã usando roupas mais justas, de “mocinha”. Começo a borbulhar na minha cabeça porque eu tinha que me vestir como um menino. Era assim que eu me sentia. Comecei a questionar porque minha mãe permitia que minha irmã usasse aquelas roupas e eu não, já que sempre usamos as mesmas roupas.

Mamãe eu cresci...
Meu primeiro sapato de salto foi uma plataforma da Parô, minha irmã ganhou uma igual. Mesmo assim eu me sentia um máximo, pois ficava mais alta que minhas tias. Mas meu desejo era que meus pés crescessem para que eu pudesse usar todos os sapados da minha mãe, até hoje espero por isso.

Amor a primeira vista...
Namorei por algumas semanas um vestido de renda de bilro, bordado com miçangas e canutilhos na vitrine. Lindo, lindo! Ele foi o meu primeiro vestido de festa.

Independência com dose de indecisão...
A primeira roupa que comprei sozinha foi uma mini-saia azul de sarja com vários botões na frente. Já o primeiro sapato foi um escândalo, decidi logo por uma sandália vermelha. Mas antes de fazer esta bela aquisição dei uma ligada para saber a opinião da mãe.

Esta é a essência do meu guarda-roupas de memória...
Aquilo que foi costurou o que é.Minha casca carrega meu humor, meu estado de espírito. Já não recebo mais interferência da minha mãe e da minha irmã. “Levei” muito a sério esta história de independência, tão a sério que me permito ser o retrato de tudo aquilo que me cerca.

2 comentários:

___Psiquê___ disse...

Belo texto Gabi!!! Adorei, assim como adoro tudo que tu escreves! Tens alma de poetisa!!! Beijo grande.

Junior São Gonçalo disse...

É interessante o universo feminino...
As mulheres são mágicas, não é mesmo?
Algumas, são bruxas...

Bjos!